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domingo, 26 de dezembro de 2010

Afinidades

São tantas diferenças que chegamos a ser iguais.
São tantas semelhanças que sei lá o que dizer...
Sei o que gosto, o que respeito, admiro...
As preocupações, os receios e os desejos são muito próximos.
Enfim, és o sonho realizado, o ideal alcançado, a busca finalmente encontrada.
És a perfeição materializada!!!

sábado, 25 de dezembro de 2010

De outros natais

É Natal! Tempo de sonhos e realizações para uns, de compra de presentes para outros ou de recordações para alguns.
Nesta época sinto saudade - mas não uma comum. São lembranças alegres e carinhosas daquele tempo em que se aguardava a chegada do Papai Noel, mesmo depois do desencanto.
Era um tempo mágico, no qual a grande questão era se ganharia, ou não, a realização do desejo. Ou ainda a surpresa, quando já não havia um desejo em especial...
Porém, a maior falta que sinto é da comemoração. Naquela época não fazíamos ceia - era necessário dormir cedo! - O grande evento era o acampamento no Dia D. O orvalho, o cheiro de mato, a caminhada, as pescarias e até mesmo a investida atrás de alguma pitanga 'temporona'... tudo era diversão das melhores.
Hoje o encantamento se perdeu e a data é comemorada quase por obrigação...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Reflexões Sobre a Greve do Transporte Público


A quarta feira, 15 de dezembro, começou sem transporte público em Pelotas. Sem dúvida, um sofrimento a mais para todos aqueles, trabalhadores e estudantes que precisam se deslocar entre os diversos pontos da cidade. Entretanto, o que poucos sabem são os reais motivos desta paralisação. Todos têm ciência de que a tarifa aumentou de valor, mas desconhecem que o salário dos trabalhadores no transporte rodoviário não foi reajustado em sua data-base (01 de novembro). Também não é de conhecimento da sociedade que os rodoviários não dispõem de um plano de saúde razoável e que sua família não tem direito nem ao atendimento ambulatorial.
Outro aspecto desconhecido da grande maioria é que há uma média de 40 mil passageiros transportados diariamente em Pelotas e o salário dos motoristas equivale a 700 passagens. Isto significa que em, no máximo, uma semana, todos os custos da empresa são pagos. As outras três semanas do mês são os lucros. Isto significa que os trabalhadores não reivindicam nada demais.
Em verdade, todos os trabalhadores, dos mais diversos setores, deveriam unir-se e exigir salário e condições dignas de trabalho. Somente quando houver a fusão das forças de todos os explorados, será possível derrotar a ganância de governos e empresários que enriquecem às custas do suor, saúde e sacrifício do povo.
Não importa em qual segmento se desempenha as atividades, interessa é que todos os trabalhadores sofrem dos mesmos males, enquanto os patrões faturam alto. Com esta perspectiva é que se deve defender os irmãos de luta e vencer os inimigos, em vez de permitir que eles se fortaleçam, assim como os ataques à classe operária.
É muito comum se considerar que um salário de R$1.500,00 é alto para este ou aquele profissional. No entanto, não é questionada com a mesma veemência a remuneração de um vereador – R$6.938,86 em Pelotas – ou de um deputado federal, que passou de R$16.500,00 para R$26.700,00.
Enquanto isso, o povo se conforma ouvindo dizer que o salário mínimo não será maior que R$540,00, ou que a Reforma Previdenciária virá retirar mais direitos (?) e aumentar o tempo para aposentadoria de quem acorda cedo e se desdobra para dar conta do mês com seu mísero rendimento, sem direito à saúde, educação, segurança, transporte, moradia, alimentação, vestuário, higiene e lazer dignos.
Fala-se tanto em solidariedade. Este é o momento de usar tal sentimento com os companheiros trabalhadores do transporte público de Pelotas. As questões relativas à falta do serviço devem ser cobradas das empresas e da prefeitura; jamais dos trabalhadores, afinal eles são vítimas da falta de negociação – desde setembro eles desejavam negociar para a data-base – e da exploração, da mesma forma que aqueles que dependem do serviço, pagando a alta das tarifas e alimentando a ganância de poucos.
Assim, em vez de reclamar do trabalhador que exige seus direitos, deve-se reivindicar a abertura das contas dessas empresas, a estatização do transporte público com redução do valor das tarifas, além da gratuidade para estudantes e desempregados. Estes são alguns passos que levarão a sociedade ao resgate dos direitos de uma vida digna.

Eunice Couto
Professora Estadual
Militante do PSTU e CSP-Conlutas

domingo, 12 de dezembro de 2010

Era uma vez...

Era um domingo quase como outro qualquer: chuva, frio e tédio em casa. Os programas planejados se perderam com a mudança do clima...
A TV, o rádio e o computador, todos ligados enquanto Ana Carolina e Raíssa brincavam. De tempos em tempos uma espiada em busca de alguém para um papo na net e nada... Restou a faxina, a montagem da árvore de Natal e algumas brincadeiras com as meninas...
À noite, com os ânimos mais tranquilos, volto ao computador a procura de algo para fazer. Eis que, numa rede social, começo a dar conversa para um tal "Dom Juan". Após alguns minutos de conversa, ele me disse que eu era muito legal e que me apresentaria a um amigo seu. Instantes depois, entrou o seu amigo e, para minha perpexidade, era ninguém menos que... Papai Noel Gaúcho!!!
Logo de início, já perguntei se poderia fazer meus pedidos via MSN ou se precisaria mandar e-mail. A conversa prosseguiu, por vídeo, áudio, telefone...
Enfim, Ana Carolina foi dormir feliz como nunca... seus olhos brilhavam de felicidade...a partir de hoje, ela sabe que existe uma câmera escondida por onde o Papai Noel a observa diariamente...
Neste momento ela dorme e deve sonhar com a conversa que teve... mais que isso, deve estar ansiosa para encontrar os colegas da escolinha e contar que "ontem falei com Papai Noel"!!!
Quanto a mim, além de ser uma louca ideológica, sou amiga do "Dom Juan" e também do "Papai Noel"... acho que ainda poderei conhecer o Coelhinho da Páscoa...
P.S: Eu tenho sonhos, mas não sou louca, não!!!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Das utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las.
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!

Mário Quintana

terça-feira, 30 de novembro de 2010

É assim que te quero, amor


É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

Pablo Neruda

Fragmento


( .. ) é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.

Morte e Vida Severina -
João Cabral de Melo Neto

domingo, 28 de novembro de 2010

Procura-se um amigo


Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

Vinícius de Moraes

Revelações sob o ENEM

O Exame Nacional que visa indicar os alunos aptos a frequentarem a universidade tem sido fonte de boas polêmicas nos últimos dois anos. Entretanto, é possível que alguns aspectos não tenham recebido a devida atenção.
Em 2009, após o escândalo do vazamento da prova a dois dias de sua aplicação, em segunda data, teve um de seus maiores testes – a redação – versando sobre si mesma: ética e corrupção. A própria prova era reflexo da falta da virtude na sociedade atual.
Um ano após, vem outra vez o ENEM demonstrar, nitidamente, outro aspecto da realidade vivida. Basta pensar: quem são os estudantes/candidatos ali sentados por horas a fio, tentando resolver da forma mais adequada as 180 questões objetivas, além da elaboração de um texto, nas tardes de sábado e domingo? Jovens e trabalhadores em busca de uma graduação universitária para chegar a melhores condições de trabalho e salário.
Observe-se, então, o outro lado: quem eram as pessoas que possibilitaram a realização do exame, nas diversas instituições onde o mesmo fora aplicado? Professores com curso superior, em grande número com especialização, trabalharam durante o fim de semana, no mês de novembro, durante oito ou nove horas de cada dia. Seriam esses trabalhadores, voluntários? NÃO! Esses profissionais são educadores, na maioria professores, no final de mais um ano letivo, que empenharam seu período de descanso, abdicaram do convívio com a família, de suas horas de lazer, em troca de um “extra” no valor de R$65,00 por dia.
Este é o retrato mais perfeito do descaso dos governos com a educação; da falta de investimentos nesta área; dos salários indignos que o professor – profissional que oportuniza a existência de todos os demais – recebe. Ou alguém supõe que essas pessoas todas trabalharam no final de semana apenas para não ficar em casa? Quiçá, por diversão?
Para completar, o tema da redação não poderia ser mais adequado: “O trabalho na construção da dignidade humana”. Para apoio, dois textos: um que versava sobre a época da escravidão; outro que tratava do trabalho no futuro, com uma boa dose de machismo, além da indicação da perda de direitos trabalhistas num futuro bem próximo. Em cada sala de aula, dois escravos contemporâneos que recebem, mensalmente, salários e tratamentos indignos tanto dos governos quanto da sociedade em geral.
O que se pode esperar do futuro da educação num país que trata mal seus educadores? Que interesse pode-se exigir dos jovens que vivenciam essas situações de desrespeito? Como se pode explicar que o estudo é a melhor herança que se deixa aos filhos?
Enquanto os princípios básicos da população não forem tratados com dignidade – leia-se saúde, educação, moradia, segurança, trabalho e lazer – não haverá uma sociedade livre das drogas, do tráfico, da violência, da barbárie que é mostrada diariamente em todos os veículos de comunicação.
Ora, mas a 8ª economia mundial participa do encontro anual do G20.


Eunice Couto
Professora Estadual
Publicado no Jornal da Campanha - Caçapava do Sul
e no Diário Popular - Pelotas - em 24/11/2010

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Pela luz dos olhos teus


Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só pra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar

Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

Vinícius de Moraes

domingo, 7 de novembro de 2010

Sequência

O tempo segue,
é o curso do caminho natural,
as inquietações acalmam-se
e, aos poucos,
a crise dá espaço às alegrias.

São dias mais bonitos,
o sorriso em tudo se faz presente,
a alegria dos pássaros
e as altas temperaturas,
trazem lembranças de aventuras,
vivências, prazeres...

E assim, segue-se o rumo:
alguns tropeços, eventuais quedas,
mas sempre uma disposição enorme
para ver o sol retornar amanhã...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Insatisfação

Não é tristeza,
não é infelicidade;
é, tão somente,
insatisfação...

Aquele buraco
dentro do ser
e nada mais...

Elogio da Dialéctica

A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nòs queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nós
De quem depende que ela acabe? Também de nós
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aì que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã


Bertold Brecht

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ter ou não ter namorado, eis a questão


Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remunerada de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil. Mas namorado, mesmo, é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega do lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado é quem não tem amor, é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar... Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa, é quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar. Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora em que passa o filme, de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai pelos parques, fliperamas, beira d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da metro. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem gosta sem curtir, quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar.

Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.

Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida, para de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.



Artur da Távola

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Coração sem imagens

Deito fora as imagens,
Sem ti para que me servem
as imagens?

Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em toda a parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.

Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.

Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.

Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.

Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.

Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.

E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.


Raul de Carvalho

sábado, 16 de outubro de 2010

Superação

Eu sei o quanto dói o peso de cada lágrima,
de cada silêncio...

Também sei que todos os delírios são
exclusivamente meus...

O quanto te quero é algo que somente eu
sei mensurar...

Mas a capacidade que desenvolvi,
para superar os obstáculos,
crescer em cada dor,
somente eu conheço...

Hoje vou chorar mais uma vez,
vou sofrer ainda por alguns dias,
mas depois voltarei,
forte outra vez,
mesmo que interiormente dilacerada...

És o meu ideal,
porém eu sou real!!!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dizem que:

"A estrada para o verdadeiro amor sempre tem obstáculos."

Para mim:

"Além de todos os obstáculos, há sempre uma longa e infinita estrada para o amor."

Reflexão:

Quando irei encontrá-lo?
Algum dia existirá o amor sem dor?
Por que as histórias felizes têm fim?
?????????????????????????????????

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Covardia

Tem dores que vêm,
não sei de onde,
com o intuito único de derrubar...

É a primeira sensação ao acordar
o último pulsar antes do sono...

Não há nada que anestesie,
inexiste álcool, ópio ou droga qualquer
que alivie este mal estar.

Sei que me falta humanidade,
como também sei a angústia
de não saber-te,
de nada poder esperar,
de tanto querer...

Quisera saber dizer:
EU TE AMO!
sem me preocupar com nada;
embora os riscos;
apesar do medo...

Porém, falta-me a coragem!!!!!!!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Desespero


No peito uma dor que entope a fala e que a pede. Uma dor inexplicável e insolúvel que brota águas e uivos lancinantes e não pára e nada pára. A dor dos desastres recorrentes. A dor que já não sei se é de ti, se de mim, se de tudo ou de tanto nada. A dor que quero curar e nada cura. Como queria quem me ensinasse o mundo.
(Clara)

sábado, 18 de setembro de 2010

Instantes


Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido;
na verdade, bem poucas pessoas levariam a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvete e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu
sensata e produtivamente cada minuto da sua vida.
Claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver,
trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feito a vida:
só de momentos - não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma
sem um termômetro, uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva e um pára-quedas;
se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos
e sei que estou morrendo.
(Autor desconhecido)


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

"Ideologia, preciso uma pra viver"

Houve um dia em que, após inúmeras análises, percebi que faltava à humanidade um boa dose de coerência entre os atos e os fatos...
Foi difícil perceber que muitos daqueles em que havia depositado minha confiança, haviam traído aos seus seguidores... Tenho a impressão que esta foi a parte mais difícil: admitir, mais uma vez - embora noutro aspecto - que houvera traição!
A luta para chegarmos lá havia sido longa, árdua, sofrida. Pior de tudo é descobrir que chegamos por força da traição...
Entretanto, para quem está acostumado aos desafios infindáveis de uma vida que luta para não ser covarde, muito menos vazia, junta-se novamente os pedaços e nega-se, terminantemente, a pensar que todos são iguais.
Assim, um dia, depois de análises mil e uma boa dose de desconfiança misturada à enorme vontade de acreditar, reencontrei. Estava ali, completando seus 15 anos, toda a minha crença.
Era por ele que eu havia procurado; era o que eu havia idealizado; era o meu sonho realizado. Foi, então, que numa data festiva, cheia de personalidades com a sabedoria a que eu aspirava, anunciei: eis aqui a ideia que defendi. Quero ser parte; quero unir-me a esta construção.
Hoje sei as dificuldades para defender um pensamento de valor. Reconheço o olhar incrédulo e até assustado com a minha identificação ideológica. É engraçado ver pessoas olharem de canto quando a percebem. Até mesmo os sobressaltos quando, sem receio, me identifico.
Por outro lado, é reconfortante encontrar os companheiros e camaradas, da mesma maneira que é fantástico participar de encontros onde todos se identificam pelo valor de seus ideais; quando todos fazemos questão de mostrar quem somos e o que defendemos, usando a mesma identificação, sem nos diferençarmos, nem sermos olhados de canto, com cara de ETs...
Há tempos não vivia esta satisfação. Tampouco sofria com alguns descasos e incompreensões...
Mas, isso faz parte da vida real... e a gente, supera... mesmo que demore e doa um pouco...
Enfim, larguei meu mundinho seguro por conta de um ideal... e, até o momento, por mais dolorido que seja, não me arrependo...
Agora é o PSTU! Contra burguês, vote 16!!!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Tu tens um medo


Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.



Cecília Meireles

domingo, 8 de agosto de 2010

De Que Serve A Bondade

1
De que serve a bondade
Se os bons são imediatamente liquidados,ou são liquidados
Aqueles para os quais eles são bons?

De que serve a liberdade
Se os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Se somente a desrazão consegue o alimento de que todos necessitam?
2
Em vez de serem apenas bons,esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade
Ou melhor:que a torne supérflua!

Em vez de serem apenas livres,esforcem-se
Para criar um estado de coisas que liberte a todos
E também o amor à liberdade
Torne supérfluo!

Em vez de serem apenas razoáveis,esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo
Um mau negócio.
Bertold Brecht

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O tempo - passatempo

Então, mais de um mês se foi
sem que as palavras fossem ditas,
é possível que nem pensadas fossem...

O tempo passa, vai, corre
e eu não o alcanço...

Sempre há mais o que fazer
que tempo para cumprir...

Mesmo assim, sou feliz,
afinal, não há tempo
para não sê-lo...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Estado de graça

E por vezes, a felicidade é algo tão
tangível, próximo, simples
que se torna difícil entender
porque tão desejada...

E assim, de pequenas coisas e
simples alegrias ou surpresas,
dispõe-se de semanas sublimes...

É uma sensação tão incrível
que se torna perceptível
até mesmo quando não pretendemos
demonstrá-la...

Uma aura de luzes coloridas
forma-se em redor do ente feliz
que seu brilho chega a ofuscar
e a pessoa fica a levitar...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Mecanização do ser

Por horas, dias, semanas, meses
apenas cumprir obrigações,
deveres, responsabilidades...
Tamanha é a carga, que se esquece
de ser humano, com toda as suas
atribuições, por mais medíocres que pareçam...

No entanto, um dia há em que um toque
faz lembrar da humanidade soterrada
e, então, o universo volta a ter cor...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Quando resta apenas o pensamento...

"A disposição de luta só se levanta quando se perdem as ilusões,
quando se vence a confusão, quando se dissipa o medo."

terça-feira, 25 de maio de 2010

Sermão da montanha - versão para educadores

Texto de abertura do Programa Rádio Vivo — Rádio Itatiaia, Belo
Horizonte — de 15/10/2009, texto do professor Eduardo Machado ).

Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem.
Ele os preparava para serem os educadores capazes de transmitir a lição da Boa Nova a todos os homens.
Tomando a palavra, disse-lhes:
- “Em verdade, em verdade vos digo: Felizes os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque eles...”
Pedro o interrompeu:
- Mestre, vamos ter que saber isso de cor?
André disse:
- É pra copiar no caderno?
Filipe lamentou-se:
- Esqueci meu papiro!
Bartolomeu quis saber:
- Vai cair na prova?
João levantou a mão:
- Posso ir ao banheiro?
Judas Iscariotes resmungou:
- O que é que a gente vai ganhar com isso?
Judas Tadeu defendeu-se:
- Foi o outro Judas que perguntou!
Tomé questionou:
- Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?
Tiago Maior indagou:
- Vai valer nota?
Tiago Menor reclamou:
- Não ouvi nada, com esse grandão na minha frente.
Simão Zelote gritou, nervoso:
- Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto!?
Mateus queixou-se:
- Eu não entendi nada, ninguém entendeu nada!
Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:
- Isso que o senhor está fazendo é uma aula? Onde está o seu plano de curso e a avaliação diagnóstica? Quais são os objetivos gerais e específicos? Quais são as suas estratégias para recuperação dos conhecimentos prévios?
Caifás emendou:
- Fez uma programação que inclua os temas transversais e atividades integradoras com outras disciplinas? E os espaços para incluir os parâmetros curriculares gerais? Elaborou os conteúdos conceituais, processuais e atitudinais?
Pilatos, sentado lá no fundão, disse a Jesus:
- Quero ver as avaliações da primeira, segunda e terceira etapas e reservo-me o direito de, ao final, aumentar as notas dos seus discípulos para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino de qualidade. Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a eficácia do nosso projeto.
- E vê lá se não vai reprovar alguém! Lembre-se que você ainda não é professor titular...
Jesus deu um suspiro profundo, pensou em ir à sinagoga e pedir aposentadoria proporcional aos trinta e três anos. Mas, tendo em vista o fator previdenciário e a regra dos 95, desistiu.
Pensou em pegar um empréstimo consignado com Zaqueu, voltar pra Nazaré e montar uma padaria...
Mas olhou de novo a multidão. Eram como ovelhas sem pastor... Seu coração de educador se enterneceu e Ele continuou:
-“ Felizes vocês, se forem desrespeitados e perseguidos, se disserem
mentiras contra vocês por causa da Educação. Fiquem alegres e contentes, porque será grande a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram outros educadores que vieram antes de vocês”.
Tomé, sempre resmungão, reclamou:
- Mas só no céu, Senhor?
- Tem razão, Tomé - disse Jesus - há quem queira transformar minhas palavras em conformismo e alienação.. Eu lhes digo, NÃO! Não se acomodem. Não fiquem esperando, de braços cruzados, uma recompensa do além. É preciso construir o paraíso aqui e agora, para merecer o que vem depois...
E Jesus concluiu:
- Vocês, meus queridos educadores, são o sal da terra e a luz do mundo..

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Noutras palavras...

Tem épocas que a dor assume um espaço tão enorme, aqui dentro,
que as palavras fogem para não agredirem os demais...

Tem horas que a solidão é tamanha,
que não se sabe mais como dizer aquilo que é sentido...

É nesses momentos extremamente dolorosos,
que outros são capazes de traduzir a dor que insiste em ferir-nos:

Sente-se saudade do que jamais existiu e, por instantes,
tem-se vontade de desistir daquilo que um dia sonhou...

Sorte que nesses tempos difíceis, surgem palavras que lembram
os motivos de ser, estar, parecer, continuar...

sábado, 15 de maio de 2010

Nada é impossível de mudar- Bertold Brecht


Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Ressaca...

Hoje bateu saudade,
solidão, carência...
Por um instante, há dores
não mais sentidas...
Falta algo, alguém,
eu em mim...

Somente hoje,
porque amanhã,
isso será passado,
e um novo sol brilhará...

Ausência - Vinícius de Moraes


Eu deixarei que morra
em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sentimento: LIBERDADE!

Outra vez aquela sensação...
outra vez o ar mais fluido...
outra vez a leveza...

Nas mãos, os calos;
nas pernas e pés, o cansaço de muitos quilômetros;
nos olhos, os desafios;
no coração, a alegria e a esperança
de uma nova vida...

Neste pequeno espaço,
planejo o que virá...
todas essas janelas iguais,
mostram-me o mundo real...

Sonhos, desejos, buscas...
Há muito o que vir,
muito o que viver e
uma grande certeza:
nada mais será igual ao que fora...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher – produto do capitalismo


Há cerca de 100 anos foi instituído o Dia Internacional da Mulher como forma de homenageá-la e, de certa maneira, redimir a sociedade machista e opressora que há vários séculos a subestima e trata como objeto.
O que muitas de nós, mulheres, ignoramos é que no início da vida em sociedade, era exatamente a mulher quem a dirigia, além de ter realizado inúmeras descobertas que levaram ao progresso da humanidade.
Existe um mito de que a mulher é socialmente inferior ao homem, porque é naturalmente mais frágil. Como ponto de apoio desta teoria, usam o fato de a mulher ser responsável pela reprodução da espécie. Ora, se é ela quem garante a sobrevivência da espécie, já está claro que de frágil e incapaz, a mulher não tem nada.
Na sociedade primitiva, os filhos sabiam quem eram as suas mães. Os homens, naquela época, tratavam a todas as crianças da mesma forma, não se importando com quem fosse o pai biológico. Todos os homens eram pais de todas as crianças da tribo.
Naquele tempo, quem organizava e dirigia a vida social eram as mulheres que, além de cuidar dos filhos, também satisfaziam as necessidades materiais da comunidade em que viviam. Outro ponto importante é que as mulheres de uma determinada tribo trabalhavam conjuntamente, em regime de cooperação.
A evolução da humanidade deve-se, portanto, à metade feminina que iniciou e conduziu as atividades produtivas que garantiram a elevação do gênero humano. E, enquanto estas mulheres mantiveram suas instituições coletivas, não foram oprimidas.
Na verdade, a opressão começou com o surgimento da sociedade privada, do matrimônio monogâmico (somente para elas, claro) e da família, o que as dispersou e isolou, transformando cada uma em esposa solitária e mãe confinada a um lar isolado.
Atualmente, as mulheres são exploradas e oprimidas em uma sociedade que as trata como objetos e ignora as suas necessidades. Entre os desempregados, o percentual maior é de mulheres; existe desigualdade salarial; a ascensão na carreira é mais difícil para elas; além do assédio moral, da violência doméstica e toda a publicidade que insiste em explorá-la das mais diversas maneiras.
Há uma verdadeira ditadura da moda e beleza que impõe às mulheres o jeito de vestir, pentear, maquiar, para serem socialmente aceitas. O envelhecimento tornou-se quase um crime e grande número delas se submete a cirurgias e tratamentos estéticos para manterem-se jovens e belas.
Além disso, existem as medidas perfeitas para que sejam desejadas pelos homens. Em nenhuma outra espécie animal, as fêmeas se esforçam tanto para agradar aos outros. Pior ainda, as mulheres competem entre si, sem dar-se conta que estão se degradando e aceitando, pacificamente, as regras machistas e capitalistas.
Por outro lado, há todo um discurso sobre a emancipação feminina, que também a subjuga moralmente. Embora as mulheres sejam o arrimo de família de 29% da população brasileira – o que as leva à jornada tripla de trabalho – ela não goza do reconhecimento social que merece.
Por fim, viveremos plenamente a igualdade de gêneros quando:
*não for necessária a criação de cotas para garantir a participação feminina na política ou em cargos de chefia;
*não mais houver promoções do tipo “elas não pagam” ou “elas pagam meia”;
*seus atributos físicos não forem mais usados para vender qualquer produto;
*a mulher não for julgada por sua visão pessoal sobre família, relacionamentos, filhos, trabalho;
*deixarem de ser publicados “manuais” sobre o modo como as mulheres devem comportar-se para conquistar um homem (ou um bom casamento);
*a violência doméstica for eliminada da realidade cotidiana, com penalização para o(s) agressor(es);
*houver creche, em período integral, para todos os trabalhadores e trabalhadoras;
*a licença maternidade, com garantia de emprego, de 6 meses, for obrigatória e sem isenção fiscal;
*nenhuma mulher necessitar reivindicar seus direitos nem fingir que não ouviu as piadas e/ou comentários de mau gosto, reproduzidas pelo machismo de plantão.


Assim, é papel de todas as mulheres lutarem em defesa de direitos e deveres iguais. Somente na luta conquistarão seu espaço!
Que o Dia 8 de março sirva para intensificar a luta contra o machismo e a opressão!

sábado, 6 de março de 2010

Eu sei, mas não devia - Marina Colasanti


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos
e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.

E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz,
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.

E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição.

As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
A luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.

Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,
a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.

Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo
e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se
da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta,
de tanto acostumar, se perde de si mesma.
É por tudo isso que minha luta não pára, durante as 24 horas de todos os dias... Eunice

terça-feira, 2 de março de 2010

Perspectivas

Maravilhoso!
Fantástico!
Feliz!
Por hora acabou...
Volta à rotina, trabalho,
dia a dia...
Aguardo novos e
inúmeros desafios...
O porvir é incerto,
mas a felicidade vivida
dará o suporte necessário
para enfrentar os percalços...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Reinício

O tempo passou
com alegrias crescentes.
Finalmente, houve
dias de individualismo,
menores responsabilidades
e tranquilidade...
Vida boa, merecida, feliz...
Nada além, nem aquém,
apenas plena...
Mas as noites chegam,
o frio vem,
vão-se o carnaval,
o horário de verão
e as férias, então,
findam...

No entanto, nada mais
é como antes...
ainda há sonhos, medos,
ilusões, fugas...
O que será amanhã,
não sei!!!
Os vários "ontens"
foram fantásticos;
os "hojes", curiosos;
os "amanhãs" estão por vir,
como deverão ser...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Férias

E, por hora,
não há nada
a dizer,
somente
curtir
a alegria
de ser feliz...

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Silêncio

Do nada, as palavras
evadiram-se de mim,
da mesma forma que
as sensações, os pensamentos,
enfim,
tudo sumiu...

Falta vontade de sonhar,
idealizar, escrever, expor...

Faz silêncio no eu,
também em ti...
o nós adormeceu...

domingo, 10 de janeiro de 2010

Ócio

Agora, as palavras estão extintas,
também não há pensamentos,
nem sonhos...

Não quero nada,
somente o silêncio das horas,
dos dias...

Busco outra vez a serenidade,
nada deverá tirar-me a paz...

Ao menos por esses dias
em que a calmaria toma conta...

Por favor, não me exija nada,
não quero discernir, raciocinar,
apenas respirar...