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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Yeda Crusius está imersa nas trevas

Katarina Peixoto escreve: "A governadora do estado do Rio Grande do Sul vive nas trevas. É difícil não se constranger com um simples cumprimento que ela tenta comunicar, tamanha incapacidade de dizer alguma coisa a respeito de algo que não seja ela mesma. E ela mesma não consegue nem dar bom dia com clareza. No emaranhado de uma espécie bizarra de egotrip, ela consegue dizer alguma verdade, porém. Um escritor já disse certa feita que o louco perde tudo, menos a razão. E a razão, mesmo nas trevas, impõe-se, contra a governadora. Isto é, contra as trevas.
Imagine que alguém na rua pára e diz: “Bom dia! E que lindo dia, o primeiro sem horário de verão deste ano. Amo o horário de verão, o dia mais longo, a noite mais curta, o calor. Amo tanta coisa...Acordei com a garganta meio ‘pegada’, o corpo me indicando que ainda não consegui ‘pegar leve’”. Ou, que abra uma carta onde esse conjunto de frases estão dispostas assim, simplesmente, numa espécie de denúncia do próprio estado mental. Um adolescente que tenha estudado a regra básica para qualquer discurso, que é o Princípio de Não-Contradição teria entendido o quê, diante desse conjunto de enunciados calamitosamente reunidos?
A única coisa verdadeira é o que diz como que “por acidente”: a governadora não consegue “pegar leve”, isto é, não consegue descansar. Nas trevas não deve haver descanso, mesmo. Quando dizer bom dia se torna um fardo para o entendimento, a “garganta” sofre. Vai ver é isso.
E então, como se respondendo a uma pergunta imaginada, presta um depoimento a respeito da iniciativa de ser governadora do estado. Depoimento em que associa motivações a reações, como se as manifestações críticas ao seu governo fossem ataques a uma idéia ou a um projeto, abstratamente. Aliás, não deixa de ser sintomática a descrição do “projeto” de governo por ela reiterado: “Como você tanto acompanha, o projeto tem cara sim, é bonito, coletivo, construtivo, respeitoso, doador”.
Mais uma vez, a razão cobra seu preço: só mesmo a inversão completa do significado de um governo pode tornar inaceitável que seja atacado. Quando o que é racional está escondido num universo de trevas e confusão, coisas mais fundamentais estão em falta. A vergonha, por exemplo. O Estado é o que não se definiu ao nascer, nas palavras de Yeda, e o povo é o que ela ama, não o que odeia, ela que é "meio caudilha", como fosse esse perfil algo virtuoso.
É diante desse universalismo todo que cartazes de sindicatos dos servidores públicos estaduais se tornam dantescos. Quando se está nas trevas, só se pode contar com o dantesco, diz a razão obnubilada pelo governo da governadora.
Um mandatário fazer-se de vítima de manifestações políticas e usar a própria família para tanto não pode ser levado a sério. Ainda mais quando essa utilização serve para priorizar, sobre gente da família e servidores públicos, isto é, serviços públicos investidos em cidadãos habilitados via concurso, idéias. Ou melhor: “intensa necessidade de comunicação, pela vida como ela é para cada um, por fazer política, que é bom fazer quando se tem ética, responsabilidade, sem medo da mudança, de estar à frente do batalhão, porque confio em cada dia, e vivo sem ficar na janela vendo a banda passar esperando a sorte, esperando a morte... como diz a música”. Que constrangimento deve ser ler isto tudo, para alguém que tem seriedade e faz parte deste governo ou desta gestão no estado. Não é possível que esse discurso venha de alguém que é arrolada como testemunha de Flávio Vaz Neto. Não é razoável tamanho desprezo pela realidade. Trevas.
Depois a governadora informa que já tem provas, dadas pelo MP estadual, de que pode morar onde mora. Agora que, rastreados todos os cheques, “a casa é limpa!”. Assim sendo, cabe perguntar: por que será que foi preciso o MP informasse que ela podia morar onde está morando, tendo comprado uma casa depois da eleição? Será que é só porque o governo é lindo, bonito, coletivo e doador?
Como a realidade está lá fora das trevas mentais da governadora, ela finalmente assume sua vida – e mandato – como fosse um filme. Um, não, dois, vividos, nas palavras da governadora, “mesmo com o alucinante caráter deste nosso governo”. Injuriando dois bons filmes, Yeda os usa para se pôr em respectivos papéis de vítimas que supostamente seriam correlatos do seu filme pessoal ou governamental – a distinção não foi precisada.
A injúria ao O Escafandro e a Borboleta é mais grave e ardilosa. Não apenas porque também ali a governadora se põe num papel de vítima do destino – o personagem do filme sofre um derrame. O caráter ardiloso, não necessariamente alucinante da comparação, vem diante do fato que teria posto a governadora no “escafandro”: a “famigerada Operação Rodin”.
Nenhum derrame cerebral torna uma investigação da Polícia Federal famigerada. E não é preciso derreter o cérebro para tomar polícia como adversário. É preciso ser criminoso, e convicto.
Com efeito, só muito republicanismo, austeridade, universalismo e espírito público, afinal de contas, pode se referir no cinema a fim de dizer coisa tão fina e elegante como: “ Mas não desisto, não vou entregar prus ôme de jeito nenhum, amigo e cumpanhêro".
Uma palavra, ainda, sobre a enganação da carta ser pública e não privada, e publicada: Insulto. A única coisa verdadeira que se diz, mais uma vez, como que “por acidente”, não vascular cerebral. Um acidente investigativo, famigerado. Constrangedor".
Créditos: Marco Aurélio Weissheimer
Publicado em www.turcoluis.blogspot.com

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