Cresci (e isso não faz muito tempo) ouvindo discursos sobre certo e errado, com destaques ao aspecto de que "quem erra, paga". Ou seja, minha educação foi embasada na perda de direitos ao descuidar dos deveres (teorias essas que norteiam a educação dos meus filhos também). Há alguns anos, vi crescer a ideia sobre "direitos humanos". Na minha inocência, acreditei que os mesmos privilegiariam a honestidade. Óbvio que meu delírio não durou muito e logo soube da ênfase do tema em defesa ao ilícito.
Há pouco mais de uma semana, assisti ao término da ficção apresentada no horário nobre da TV, "Caminho das Índias", que entre muitos assuntos, abordou uma determinada família superprotetora do seu "bebê" super, hiper, mega mal educado. Ao menos no final da trama, o rapaz foi "condenado" a aprender limites, cumprindo "pena" numa instituição filantrópica. Não tenho dúvidas de que o cidadão nasceu, realmente, naquele momento, quando o indivíduo ganhou sua liberdade como ser humano, aprendendo a ser gente de verdade.
Na última quarta-feira, por acaso, vi um dos jornais de maior circulação no RS e um dos destaques de capa era a questão da indisciplina escolar. Embora o tema seja bastante recorrente no cotidiano, foi impossível não ficar "abestalhada" com a situação: pais do mundo real, amparados por renomados educadores, recriminaram a professora que "impôs" limites ao vandalismo de um aluno.
Engraçado! Na semana anterior, o mesmo jornal criticava, com veemência, a atitude exagerada de estudantes – em protesto contra a corrupção no governo estadual – que pintaram nas paredes e pisos da Assembleia Legislativa “Fora Yeda!” (Seriam dois pesos e duas medidas???)
Voltando à notícia da indisciplina, o fato de pichar a escola (recém pintada com a ajuda da comunidade) foi irrelevante - segundo os entendidos - diante da punição infligida ao menino de 14 anos, matriculado na 6ª série (parece-me que nos números há indícios de algum problema): limpar o que ele mesmo havia sujado. A atitude da professora - em momento de indignação, até - ao dizer que o referido aluno comportara-se como "bobo da corte" (seria esta uma ofensa imensurável?), tornou-se mais chamativa que a atitude do mesmo.
No entanto, aspectos como a existência de inúmeros rabiscos com o nome do rapaz, anteriores à pintura; assim como a não-colaboração da família no mutirão e, até mesmo, a defasagem idade/série do educando, parecem não ter implicação alguma com a atitude do referido aluno. Pergunto-me: teria esta família já se preocupado com tais questões?
Embora esteja a uma grande distância territorial do ambiente, onde o fato aconteceu, pelos anos que dedico à educação, posso afirmar que estes pontos são indicadores de que o estudante não é muito chegado à escola e seu objetivo maior: a educação.
Tudo isso ocorre ao mesmo tempo em que, em Caçapava do Sul, um menino de 15 anos agride a marteladas um comerciante, levando-o a óbito logo depois. Este aluno, também de 6ª série, deu muito trabalho à escola, que fez inúmeras buscas à família - a qual deu mínima atenção aos chamados da instituição escolar. O resultado? Drogas, roubo e uma família, de bem, destruída cruelmente por um jovem assassino...
Questiono, então: que mundo é este? Onde estão os princípios básicos da vida em sociedade? Errado é quem procura mostrar ao adolescente que é necessário ter responsabilidade sobre seus atos? Até onde lembro, para que o cidadão tenha direitos é fundamental, primeiro, cumprir com seus deveres. Ou estou eu fora de moda e a modernidade atribuiu à sociedade o direito de não mais respeitar o espaço (trabalho) do outro? Antigamente, a liberdade de um ia até o ponto em que não invadisse a do vizinho... mas isso deve ser coisa ultrapassada... Qual é mesmo a função atual da escola? Tenho ouvido, frequentemente, que o professor deve suprir também a falha da família, da sociedade, enfim... Não foi isso o que a professora fez com seu pupilo pichador?
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